quinta-feira, 28 de julho de 2011

Já não existem as cores lindas del Arco Balleno

Tenho pena.


A vida , mesmo que tanta gente insista, já não tem nem as cores , nem os aromas de outrora. Está feia, cinzenta e, sem perspectivas do que quer que seja. Podia justificar esta descrença com mil razões, mas também não vale a pena. Apenas lamento que os homens, numa corrida desmedida e sem sentido prático, têm vindo a desfazer tudo o que nos era grato e nos fazia sorrir.


Lembro-me que quando era criança, e na minha casa se contavam os tostões para se comprar petróleo, pão, café, açucar e, os meus sapatos deixavam entrar frio e restos de chuva, e apesar das lágrimas da mãe, que chorava pelos motivos que eu tão bem conhecia, mesmo assim, eu continuava a ser feliz. Por inocência, por ingenuidade, por tudo aquilo que já nos roubaram.


Nesse tempo, e embora o escritor Lobo Antunes escreva crónicas da sua juventude passada em Benfica (- igual à minha - éramos vizinhos), faça parecer que a sua existência igualmente estava rodeada de dificuldades, envolvendo contudo nessa prosa, muito de fantasia. Ele era um burguês que queria manter uma certa proximidade com a realidade que então se vivia. Era um menino rico mas envergonhado. Todavia, sempre nos falámos e convivemos bem. Porém, a sua escrita tem muito de "faz de conta que era assim".


Não sei porquê, hoje lembrei-me dele e, achei que é um dos homens que à força de uma estúpida insistência, fala em coisas más como se fossem boas. Para mim foram, o princípio, julgava eu, de um amanhã melhor.


Porque afinal mesmo quando só comia um prato de sopa, eu era muito mais feliz do que hoje, nesta co-habitação com gentes de mãos com anéis ou, com aqueles que numa mão não têm nada , e na outra coisa nenhuma..... E temos de continuar a puxar a carroça da desconfiança, porque até o sentimento bom de acreditarmos, nos tiraram.


Não vale a pena.


Afinal, será uma vez mais o tempo, quem sabe, que para meu contentamento - ao menos isso -irá ajudar para que eu volte a ver, mesmo sonhando, as minhas cores lindas Del Arco Balleno.







mem